O cara falava de pé e enchia o seu copo de requeijão de cerveja
Falava muito
E eu simplesmente o admirava
Pensava
“O fdp é completamente maluco, mas é bonito pra caralho”
A barba loira, a pinta acima do bigode e um par de olhos verdes que me tomavam de assalto a alma, num grau que eu precisava me lembrar toda hora de que ele era maluco
Estava suado
E chegou como se nunca tivesse parado de falar comigo
Já estávamos íntimos
Ele falava
Contava histórias na terceira pessoa para me dar algum tipo de lição ou indireta
Talvez pra que eu não me apaixonasse
Talvez pra que ele não se apaixonasse
Maluco, recordei
Eu respondia na mesma moeda
De tempos em tempos, quando me levantava, ele me intercedia e me arrancava uns beijos intensos
Sentia seu corpo contra o meu
No fundo eu não queria mais muito papo
Queria me embolar no seu corpo, queria ser devidamente devorada pela sua marra
Na terceira vez que me pegou, não largou
Me agarrou de um jeito
E me penetrou com uma força que eu gritava de prazer e dor
O cara suava
E metia em mim como se não fosse haver amanhã
Eu gemia alto
E me agarrava em seu corpo
Lambia seus dedos
Roçava no seu rosto
Me abrindo pra que me escancarasse
“Me arromba”- pedi
O cara não me comeu
O cara realmente me devorou
Caiu para um lado da cama molhado e ofegante
No outro, eu me tremia como se tivesse tomado um choque
Cansado, tomou um banho e dormiu
Viramos a noite toda de conchinha de um lado para o outro
Quem via aquele cara que antes disso tudo vociferava liberdade e dificuldade de se apaixonar e que as mulheres se emocionam e tal, não acreditaria em ver como me acariciava o cabelo quando eu contava algo particularmente delicado
Ou como seu corpo e rosto se aproximavam do meu para simplesmente dormir
Aquele homem lindo, maluco, brilhoso, sensível, meio rabugento, estava ali, colado de ponta a ponta do meu corpo a noite toda
Nos intervalos que eu ia ao banheiro – efeito da cerveja – o observava
Lá pelas 9h, acordou reclamando do barulho
Me perguntando sobre meus amores passados
Pedindo minha honestidade nas respostas
Fizemos café da manhã juntos
Sentamos à mesa
E ele tinha mais perguntas sobre mim
Passei por um interrogatório
O que será que ele realmente pensa sobre mim, me pergunto
Tomei banho de porta aberta, depois
Ele tomou banho de porta aberta
E conversamos mais um pouco com ele pelado na minha frente
Aquele pau gigantesco pendurado acompanhado dos olhos verdes que agora ficavam mais claros com a claridade do dia
“Que moleque bonito do caralho!”
Desfilei de biquíni pela casa para que me visse
Nos beijamos descendo no elevador
Nos beijamos na porta do metrô
Disse para se cuidar
Indo embora com a minha bicicleta
Pisquei os olhos, senti aquele frio na barriga com os flashes da noite anterior e me despedi daquela proximidade
Daquela quantidade de fala e de texto
Fui me preparando para mais um longo inverno de silêncio
Ah! E antes que me esqueça:
Ele é completamente maluco, mas não tem mentira no seu fogo.